Pandemia inspirou arte de rua em forma de protestos e homenagens

Acumulando quase 600 milhões de casos e cerca de 6,5 milhões de vidas perdidas até agosto de 2022 em todo o mundo, a pandemia de covid-19 transformou, em pouco tempo, a vida em quase todos os países do planeta. Fechou escolas, museus e cinemas, levou muitos trabalhadores ao home office, aumentou o adoecimento mental da população. A arte, expressão da criatividade humana, foi inspirada pelo momento e levou às ruas protestos e homenagens.

O assunto é tema da pesquisa de pós-doutoramento desenvolvida por Michèle Sato,  professora na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e pesquisadora do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA). Realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o principal objetivo do estudo foi interpretar a arte de rua e suas expressões sobre a pandemia.

Fé, humor, tristeza, revolta e solidariedade. Esteve tudo ali, estampado em muros e até em esculturas. A chave quase sempre foi um grito contra o negacionismo que ampliou o alcance do vírus e contribuiu para o aumento do número de mortes. “As máscaras e o destaque às enfermeiras demarcam o caldo vigoroso de que os artistas não são negacionistas, acreditando na proteção de máscaras, higienização e isolamento, bem como são gratos aos profissionais da saúde”, observa a pesquisadora.

Não sendo negacionistas, as críticas políticas rechearam bem os muros do mundo, especialmente nas apreciações mais elevadas contra os líderes governistas, principalmente da China, dos Estados Unidos e do Brasil de Jair Bolsonaro (PL), que já registrou 33,9 milhões de casos de covid-19 de 679 mil mortes. No caso do artista Márcio Machado, a postura do presidente brasileiro foi duramente criticada na obra “Dinastia Bolsonaro”, um trono feito de ossos que buscou representar o poder político e a morte evocada pela figura do líder populista.

“A irreverência da arte popular é sábia e não é nova, tem tradição, principalmente num país chamado Brasil, que consegue satirizar a própria situação política, com um presidente que atrasou a compra das vacinas, fez desdém da doença e elevou o Brasil num dos países mais negligentes no enfrentamento da Covid-19. Agravaram também as violências domésticas, com a infância roubada e inúmeras violações de direitos das mulheres”, destaca Michèle Sato.

Bolsonaro também foi alvo dos protestos do artista brasileiro Airá Ocrespo, conhecido também como Mc Grafiteiro. O artista revela que o processo de criação dos grafites foi permeado de sentimentos como revolta e medo. “Nenhum carinho por essa pintura que eu fiz com ódio. Há amor dentro do ódio e vice versa! O princípio que eu parto é o do valor da vida e esse é o filtro para interpretar tudo o que assimilo. Esse ser vil que foi colocado como presidente, desperta nas pessoas sentimentos que elas nem sabiam que existiam”, desabafa ao comentar um dos grafites pintados em 2020.

A partir da pesquisa realizada pela estudiosa foram arquivadas 2205 fotografias de arte de rua do mundo inteiro, por intermédio de vários canais midiáticos e contatos diretos com alguns artistas.

Fonte: https://www.pnbonline.com.br/geral/pandemia-inspirou-arte-de-rua-em-forma-de-protestos-e-homenagens/86013