Linhas de Pesquisa
LINHAS DE PESQUISA:
- Poéticas Contemporâneas
Se o horizonte problemático do programa é o que aconteceu com a cultura nos últimos sessenta anos, um dos modos de enfrentá-lo é sondar, de um lado, a re-configuração de práticas tradicionais mediante a incorporação de novos elementos (na cultura e na arte) e, de outro, a produção (invenção) de novos modos de fazer que podem resultar na introdução de novas práticas. Não ignorando a formulação aristotélica do conceito de poética (aplicado à poesia), nem a mais recente de Luigi Pareyson, que estende o conceito aristotélico para toda e qualquer produção artística, compreendendo-o como programa de arte implícito no exercício da atividade artística que traduz em termos normativos um determinado gosto do artista ou de toda uma época, a Linha de Pesquisa em Poéticas Contemporâneas toma o termo “poéticas” no sentido amplo de “criação”, de “formação”, atribuído à palavra grega poiésis, não a restringindo à prática artística, sem descartá-la, todavia. Inspira-se no conceito de autopoiésis, cunhado por Humberto Maturana e Francisco Varela, para designar a capacidade dos seres vivos – e dos grupos que constituem a vida social – de produzirem a si próprios, de modo contínuo. Uma organização “autopoiética” é uma organização que cria a si mesma juntando suas potências e arrecadando aquelas que são oferecidas pelo meio ou pelo ambiente ao seu entorno. Acreditamos que essa compreensão pode ser estendida aos processos artísticos e culturais. Esta linha acolherá, portanto, pesquisas sobre os novos modos de fazer artísticos e simbólicos de indivíduos e grupos – as suas poéticas – na sociedade contemporânea, privilegiando práticas e pensamentos latino-americanos.
- Epistemes Contemporâneas
Sem ignorar as epistemes de outros momentos históricos, especialmente o da Grécia Antiga – quando se acreditava haver uma verdade e que esta poderia ser alcançada – e da Idade Moderna – que propugnava pela certeza do conhecimento da natureza e na possibilidade, sobretudo, do primeiro arrancar os segredos da segunda, a Linha de Pesquisa em Epistemes Contemporâneas abriga pesquisas sobre a diversidade de propostas epistemológicas que emergiram a partir do último quartel do século XIX e que colocam em cena outras possibilidades de conhecimento filosófico e científico, com ênfase na América Latina, embora não apenas, marcados principalmente por:
a) novas lógicas que passam a conviver com a chamada lógica clássica onde reinava o princípio de identidade;
b) outra concepção de verdade, vista como algo que se inventa e se propaga e se consolida como tal;
c) valorização de termos (e processos) como mestiçagens, hibridações, ruptura das fronteiras disciplinares em contraposição aos princípios de pureza e eugenia no campo do saber – conduzido pelo chamado saber disciplinar – que se deu, sobretudo, a partir de Descartes (século XVII);
d) valorização dos chamados etno-saberes, na expectativa de que possam também compor a agenda do pensamento e do conhecimento filosófico-científico no século que ora se inicia, considerando-se a incapacidade da racionalidade técnico-científica para resolver problemas gerados no século XX como a fome, a degradação e destruição ambiental e a demanda de paz e tolerância entre os povos e nações.
- Comunicação e Mediações Culturais
Esta Linha de Pesquisa visa abranger projetos que tratem das práticas sociais como mediadoras da produção de sentido e da vinculação social na contemporaneidade. Considera, nos dispositivos discursivos, as práticas sociais e culturais como práticas comunicacionais e, simultaneamente, como formadoras dos ambientes de circulação de informações. Mais precisamente, interessa analisar a comunicação como meio e tema pertinentes aos estudos de cultura. Pelo menos três modelos teóricos compreendem esta relação: a cibercultura (Pierre Lévy), a folkcomunicação (Luiz Beltrão) e a visão ritual da comunicação (James Carey). Estas perspectivas são especialmente estudadas nos aspectos de transmissão, recepção, consumo e processos cognitivos que tangenciam o campo da cultura que, entre a oferta e a recepção de informações, reinventam os processos de construção dos rituais de vinculação social. Assim, estas perspectivas teóricas compreendem a travessia da comunicação na cultura contemporânea, na medida em que distintas práticas sociais e midiáticas vêm constantemente transformando o campo teórico da Comunicação e da Cultura. O ethos contemporâneo é profundamente marcado pelos processos de midiatização que compreendem a comunicação de massa, a comunicação segmentada e, principalmente, a proliferação de práticas midiáticas da auto-gestão da comunicação que, desde o século XX, vêm desestabilizando e transformando o espaço público, principalmente se for considerada a afirmação de que a linguagem é não apenas “designativa de”, mas “produtora de” novas realidades. A esta realidade marcada pela presença das práticas comunicacionais é que o pesquisador brasileiro Muniz Sodré chama de bios midiático. É também sobre o atravessamento da comunicação na cultura contemporânea que o pesquisador espanhol-colombiano Jesús Martin-Barbero analisa por que, na América Latina, o fenômeno comunicacional, ao modo de um desvio de rota epistemológico, catalisou linhas de ponta na pesquisa social.
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